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Experiência educativa não pode ser baseada em relações de poder, afirma Ailton Krenak

Ao lado da professora e escritora Bárbara Carine, filósofo participou do último debate do II Congresso Internacional de Educação Sesi-SP

Ao lado da professora e escritora Bárbara Carine, filósofo participou do último debate do II Congresso Internacional de Educação Sesi-SP

 Por: Alex de Souza, comunicação Sesi-SP
18/09/202415:11- atualizado às 15:36 em 18/09/2024

Fomos jogados na praia da modernidade. Alguns acorrentados, outros pelados”. A afirmação do líder indígena, ambientalista, filósofo e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Ailton Krenak, resume o modo como os povos africanos e indígenas foram introduzidos à vida contemporânea, em sua visão.

Ele participou do encerramento do II Congresso Internacional de Educação Sesi-SP, na terça-feira (17/9), ao lado da professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Bárbara Carine, em mesa redonda mediada pelo professor Everton Dias, da Faculdade SESI de Educação.

 

Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista, filósofo e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Foto: Karim Kahn / Sesi

 

"A Educação do futuro é ancestral: uma proposta de futuro para um mundo em chamas" foi o tema do último debate do Congresso. “Nada mais atual”, disse Krenak. Para ele, as “chamas” podem ser apagadas quando “não se estabelece uma relação de poder entre professor e aluno”, exemplificou.

Olhar o outro de forma humanizada, colocando as múltiplas culturas no mesmo lugar de humanização” é a sugestão de Carine. Para ela, entender a nossa contemporaneidade passa por saber de onde viemos, quem somos. “Passamos uma vida inteira construindo um ser a partir da negação e do que foi estabelecido sobre nós. E não podemos saber quem somos pela narrativa única do colonizador, mas por meio da própria agência”, pontuou.

Carine é a sócia-idealizadora da escola afro-brasileira Maria Felipa, primeira do gênero no país, e sua proposta é uma educação que contemple os diversos olhares, não uma visão eurocentrista do mundo.

 

Bárbara Carine, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e a
sócia-idealizadora da escola afro-brasileira Maria Felipa.
Foto: Karim Kahn / Sesi

 

O fóssil mais antigo foi encontrado no leste africano, as ciências foram ali desenvolvidas. Muito antes dos gregos, os povos africanos fizeram ciência. As pirâmides antecedem Pitágoras. Mas o ‘milagre grego’ foi criado para assentar as bases do eurocentrismo contemporâneo”, argumentou.

As escolas adoram mostrar os negros como escravos, chegando às Américas acorrentados, mas a minha filha vai se informar de outra maneira. A escola que educa para o desenvolvimento humano reconhece as múltiplas humanidades”, disse ela.

Para Krenak, o Ocidente consegue aprisionar a narrativa que deseja e prioriza “a lógica cartesiana, que não admite o erro”. Ele entende que a educação não é uma experiência que acontece em um endereço, apenas. “A escola não é exatamente o lugar que coincide com a experiência educativa”, defendeu.

Pensar em educação relacionada à ideia de futuro ancestral implica valorizar verdadeiramente tudo o que os antepassados produziram de saberes e conhecimento, sem nunca ter recebido um diploma para isso”, concluiu.

 

Foto: Karim Kahn / Sesi

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