Conceição Evaristo e Kabengele Munanga falam sobre como avançar neste tema no I Congresso Internacional de Educação Sesi-SP
Por: Isabel Cleary, comunicação Sesi-SP
19/09/202312:29- atualizado às 09:35 em 16/10/2023
Nos últimos anos, o debate sobre a educação antirracista ganhou destaque em todo o mundo, à medida que a sociedade reconhece a urgente necessidade de combater o racismo sistêmico e promover a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. No Brasil, essa discussão tem sido especialmente relevante, dada a diversidade étnica e racial da população, e foi tema do I Congresso Internacional de Educação Sesi-SP, realizado nos dias 18 e 19/9.
Desde de março de 2008, foi instituída a Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. Entretanto, como é possível construir uma educação antirracista para além da teoria? Para debater o tema, a escritora Conceição Evaristo, uma acadêmica ativa nos movimentos de valorização da cultura negra no Brasil, compôs a mesa redonda do evento com o antropólogo Kabengele Munanga, professor e pesquisador brasileiro de origem congolense, reconhecido por seu trabalho e contribuições significativas para o estudo das questões raciais, identidade étnica e relações raciais no Brasil.
De acordo com Conceição Evaristo, a efetiva implementação de uma educação antirracista na prática requer que os professores sejam referência, que haja um projeto educacional sólido e que até mesmo os livros didáticos estejam alinhados com essa abordagem.
“É preciso ter mais educadores negros em sala de aula, pois são eles que desempenham um papel crucial nesse processo. Mesmo diante de políticas públicas relacionadas ao tema, é o educador quem desempenha um papel central na construção da educação antirracista no ambiente da sala de aula. Entretanto, se o estado brasileiro não for capaz de pensar políticas públicas educacionais que promovam uma educação antirracista, nós estaremos enxugando gelo. Historicamente, a educação brasileira sempre quis valorizar o status quo de determinadas classes sociais”, disse Evaristo.
Ainda de acordo com a escritora, existem fundamentos que foram concebidos para democratizar o acesso à educação no Brasil, visando atender às camadas populares. No entanto, esses fundamentos não foram capazes de aprofundar a discussão educacional no que diz respeito ao racismo. “Estes pilares não conseguiram colocar o dedo na ferida, e a educação antirracista coloca o dedo na ferida. Para isso, a linguagem racional, inclusiva e libertadora, é uma grande aliada na construção de uma educação antirracista na prática e, analisar se a linguagem na educação é racista, é crucial para esse objetivo”, explicou.
Para Kabengele Munanga, o racismo constitui um dos graves problemas que atormentam a nossa sociedade, e a educação pode contribuir com o seu combate. Porém, a questão que se coloca é como e que tipo de educação. “É por meio da educação que se formam os indivíduos racistas, sexistas ou homofóbicos, e é essa mesma educação que pode descontruir estes”, afirmou Munanga.
O professor acredita que a educação antirracista deve também reconhecer e valorizar as contribuições dos afrodescendentes para a sociedade brasileira e destacar a luta contra a escravidão e o racismo. Ele argumenta que o racismo está enraizado em sistemas sociais, econômicos e políticos, e a educação antirracista deve abordar essas estruturas de forma crítica. Por fim, o professor destaca a necessidade de oferecer formação e capacitação adequadas aos professores para que possam abordar questões raciais de maneira sensível e eficaz.
A educação antirracista é uma abordagem fundamental para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa. Ao implementá-la no ambiente escolar e acadêmico, estamos preparando as futuras gerações para serem cidadãos conscientes, capazes de enfrentar os desafios do racismo e promover a inclusão. No entanto, é importante reconhecer que esse é um processo contínuo que requer o comprometimento de educadores, pais e comunidades para criar um ambiente onde todos possam prosperar, independentemente de sua raça ou origem étnica.
Datas: 18 e 19 de setembro de 2023
Mais informações em https://congressosesisp.com.br
Programação detalhada em https://congressosesisp.com.br/programacao
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