Beiguelman utiliza inteligência artificial para criar obras que relacionam plantas proibidas e demonizadas a mulheres apagadas da história da ciência e da arte
Por: Klelvien Arcênio, comunicação Sesi-SP
23/10/202411:41- atualizado às 10:58 em 11/11/2024
Tudo começou com a maçã (que talvez fosse um figo ou uma romã, segundo relatos antigos e anteriores ao Renascimento). Quando Eva provou o “fruto proibido” da Árvore do Conhecimento e o ofereceu a Adão, causando a expulsão do casal do Jardim do Éden, ela se tornou a primeira protagonista de uma história milenar que associa mulheres a plantas “Venenosas, Nocivas e Suspeitas”. Este é o título da nova exposição que Giselle Beiguelman apresenta, de 6 de novembro de 2024 a 20 de abril de 2025, na Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp, na Av. Paulista.
Em “Venenosas, Nocivas e Suspeitas”, a artista relaciona plantas que foram proibidas ou demonizadas pelo colonialismo – por razões que vão do seu uso em práticas rituais a poderes afrodisíacos ou alucinógenos – a mulheres que foram apagadas da história da arte e da ciência.
Retratos “negociados” com IA de Maria Bandeira, Maria Sybilla Meriam e Marianne North
Beiguelman também homenageia naturalistas do século XVII ao XIX, que, apesar de terem feito importantes contribuições à ciência e às artes, nunca receberam os devidos créditos. Com a ajuda da inteligência artificial, ela recriou retratos dessas mulheres, que surgem em meio a plantas e flores. A artista conta que precisou “negociar” com a IA para que as homenageadas chegassem à provável aparência que tinham na idade em que morreram, uma vez que a tecnologia tem dificuldade de criar imagens de mulheres mais velhas, com rugas e marcas de expressão.
A gerente de Cultura do SESI-SP, Débora Viana, considera importante a realização de mostras artísticas que levam à reflexão e que dialogam com o momento atual da sociedade. “Reiteramos o compromisso da nossa instituição em ofertar um ambiente cultural e artístico, proporcionando ao público projetos de qualidade e que promovam e incentivem a reflexão. A exposição ‘Venenosas, Nocivas e Suspeitas’ é uma oportunidade para entendermos como a IA vem sendo utilizada por artistas na produção de seus trabalhos, bem como dar oportunidade às crianças e jovens de conhecerem sobre plantas consideradas pelo colonialismo como perigosas ou até proibidas, e sobre importantes mulheres que foram apagadas da ciência e da história. No SESI-SP, concebemos e executamos projetos em uma ampla gama de áreas, convidando o público a mergulhar de cabeça no universo do conhecimento e da expressão artística, gratuitamente. Promover a cultura é papel fundamental para a construção de uma sociedade mais inovadora e crítica”.
SOBRE A ARTISTA
Giselle Beiguelman é artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Suas obras artísticas integram acervos de museus no Brasil e no exterior, como ZKM (Alemanha), Jewish Museum Berlin, MAC-USP, IMS e Pinacoteca de São Paulo. Em seus projetos recentes, ela investiga a construção do imaginário colonialista das artes e das ciências com recursos de Inteligência Artificial, entre os quais destacam-se: “Botannica Tirannica”, exposta no Brasil e no exterior; Bienal de Karachi (Paquistão); Museu Sartorio (Itália); Koffler Arts (Toronto), entre outros.
É coordenadora do “Projeto Temático Fapesp Acervos Digitais e Pesquisa: arte, arquitetura, design e tecnologia” e autora de diversos livros, entre eles “Políticas da imagem: vigilância e resistência na dadosfera” (UBU Editora, 2021), e mais de uma centena de artigos sobre arte e cultura digital. Recebeu vários prêmios nacionais e internacionais.
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