Com a pandemia e as restrições a visitas, a saúde mental dos cerca de 83 mil idosos que vivem em casas de repouso no Brasil ficou ainda mais fragilizada. Robô conta charadas e toca músicas.
Por: Agência de Notícias da Indústria
27/05/202216:03- atualizado às 11:30 em 11/09/2023
Com o tempo, é comum que o corpo não acompanhe mais a mente, que ainda pode permanecer jovem. As rugas aparecem, os fios brancos tomam conta e algumas lembranças podem cair no esquecimento. Às vezes, essa fase vem acompanhada da solidão.
O que deveria ser a melhor idade, em alguns casos, traz experiências frustrantes aos idosos, por conta do isolamento em casas de repouso, da distância e da falta de carinho e atenção da família. A longo prazo, a solidão pode causar danos físicos e psicológicos.
Com o objetivo de melhorar a saúde mental daqueles que vivem em instituições de longa permanência para pessoas idosas, os estudantes Henrique Ailer, Leonardo Zanetti e Ryan dos Santos, 15 anos, da escola do Serviço Social da Indústria (SESI) de Santa Bárbara d’Oeste (SP), criaram o Companhia (CIA) Virtual, um robô que conta charadas, toca músicas e interage sonoramente.
“O robô procura simular uma companhia humana ao idoso que está se sentindo solitário, de uma maneira virtual. Dessa maneira, tendo o robô para interagir, o idoso acaba se sentindo mais tranquilo e querido, ele sente como se tivesse alguém lá junto com ele”, explica o estudante Henrique Ailer.
O projeto conquistou o primeiro lugar em engenharia da Feira Paulista de Ciência e Tecnologia e foi indicado à Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace).
“O robô colabora para o desenvolvimento cerebral, para que se estabeleça sinapses, estimula o diálogo, faz com que eles saiam do ambiente em que estão, se levantem da cama para comer, porque até isso, às vezes, era complicado lá”, declara orientadora Érica Fátima.
Segundo dados divulgados em 2020 pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), dos 210 milhões de brasileiros, 37,7 milhões são pessoas idosas, o que corresponde a 17,9% da população. Já um estudo realizado em 2011, pelo Instituto de Pesquisa Econômica (IPEA), aponta que no Brasil 83 mil idosos vivem em instituições públicas ou privadas.
Com a pandemia, as medidas sanitárias nas casas de repouso ficaram ainda mais restritivas. Em alguns locais, as visitas passaram a ser apenas virtuais, como no Asilo São Vicente de Paulo (SP).
Foi aí que os estudantes começaram a se questionar sobre as consequências que a redução do contato humano causaria nos idosos, uma vez que eles deixariam de receber afeto e atenção dos seus familiares.
De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Chicago (Estados Unidos), os idosos que se consideram solitários apresentam até 14% mais chances de sofrer morte prematura. Além de influenciar no desenvolvimento de transtornos psicológicos, a solidão aumenta a produção de hormônios de estresse e tensão, o que contribui para inflamações em diversas partes do corpo.
Motivados a partir da disciplina de eixo integrador, que propõe a busca por soluções de problemas da própria comunidade, os jovens começaram a entrar em contato todos os dias com a equipe e com os idosos do asilo para saber como eles estavam se sentindo realmente.
Assim, surgiu o CIA Virtual, um protótipo de robô, com cerca de um metro de altura, que interage com os idosos conforme programações.
“Nós sabemos que o virtual não substitui o contato humano, mas é algo diferente para atrair esses idosos, pra ver se leva um pouco de alegria a eles”, destaca Érica.
Os estudantes criaram a modelagem tridimensional e imprimiram, com o auxílio de uma impressora 3D, o robô em MDF. A princípio, eles utilizam a alexa, uma assistente virtual, para a programação, mas pretendem trocar por arduíno, que é uma plataforma de prototipagem a qual controla sistemas interativos. O CIA Virtual também possui painéis com luzes de LED para imitar a ação dos olhos humanos.
“Escolhemos a alexa por conta da similaridade com a voz humana, mas pretendemos trocar por um arduíno, equipado com as funções que ela tem, porém específico para o projeto”, explica Henrique.