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Jornada Paz nas Escolas debate violência, bullying e preconceito

Educadores e alunos fazem Jornada pela Paz a fim de propor soluções inovadoras para criar ambiente escolar mais amistoso, tendo o diálogo como alicerce

Educadores e alunos fazem Jornada pela Paz a fim de propor soluções inovadoras para criar ambiente escolar mais amistoso, tendo o diálogo como alicerce

 Por: Alex de Souza, Cristina Carvalho, Mariana Soares e Tássia Almeida, Agência Indusnet Fiesp
04/09/201918:47- atualizado às 17:34 em 05/09/2019

O ambiente escolar necessita contar com o engajamento de toda a comunidade na promoção da paz.  Com esse objetivo, foi realizado a Jornada paz nas escolas, nesta terça-feira (3/9), na Fiesp, a fim de incrementar o diálogo entre os diferentes públicos da rede Sesi e oferecer formação aos profissionais da educação com a oferta de palestras, desafios de ideias (Ideathon), cine debate, além do depoimento de personalidades. No público, coordenadores pedagógicos e professores do Ensino Médio, supervisores escolares, psicólogos educacionais do Sesi em todo o Estado, além de alunos.

O presidente da Fiesp e do Sesi-SP, Paulo Skaf, frisou que vivemos novos tempos com muita inovação, em uma época de grande transformação tecnológica que ocorre em curto espaço de tempo. Por isso, é necessário se adaptar às novas situações e se reinventar, pois se sentem os reflexos das tecnologias que surgiram, como a internet, levando a um debate sobre o impacto que ocorre na vida e saúde das crianças, nas escolas e também em termos de agressividade.

“É um problema trazido pela tecnologia que traz muita coisa boa, mas também, problemas. Nada melhor do que conhecê-los, enfrentá-los e resolvê-los. É esse o objetivo da Jornada da paz: juntar experiências, trocar ideias e buscar soluções”, disse Paulo Skaf, durante a abertura do encontro. São novos desafios que acontecem muitas vezes quando o educador nem sabe como resolvê-los. “O que a gente faz diante dessas situações?”, questionou o presidente ao reforçar a importância do evento, realizado em parceria com o Canal Futura e a Fundação Roberto Marinho. “Tudo o que for para ajudar na qualidade da educação, com foco nas crianças, para dar oportunidade a essa meninada, a Fiesp e a indústria de São Paulo estarão sempre à disposição, concluiu Skaf.

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Presidente da Fiesp e do Sesi-SP, Paulo Skaf, na abertura da Jornada Paz nas Escolas, afirma acreditar em uma busca de solução conjunta para enfrentar mudanças tecnológicas e agressividade nas escolas, que impacta a vida de toda a comunidade escolar. Foto: Ayrton Vignola/Fiesp

A palestra de abertura contou com Miriam Abramovay, coordenadora de juventude e políticas públicas e violência nas escolas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). “O objetivo de minha palestra, Convivência e vivência escolar, foi mostrar aos educadores a importância da escola na sociedade porque que ela é um lugar fundamental na aquisição de capital social e de capital humano. Por que todos os adolescentes e jovens têm de frequentar a escola? O que está acontecendo com a educação, já que está defasada? O que deveria ser a educação hoje e como há programas e projetos que estão se atendo a essa questão da convivência e da violência escolar?”, questionou a educadora, que elogiou a proposta do Sesi ao reunir professores de unidades de diferentes municípios a fim de participar dos debates organizados na Jornada. “Essa experiência é excepcional: são 500 professores das mais variadas localidades”, completou.

“É preciso implementar um programa de convivência e violência escolar, com a participação dos professores, dos alunos, diretores e da família. Esses educadores terão que ser muito bem capacitados porque, geralmente, aprenderam a trabalhar em uma escola que pouco se transformou. Dessa forma, melhoramos o clima escolar, que é o mais complicado, onde há mais tensão e brigas, que podem começar com uma violência verbal, com uma violência que não é uma violência dura, mas pode ter consequências muito graves”, ensinou.

Ao tratar de violência, Abramovay lembrou que, no Brasil, a miscigenação cultural produziu mitos como o da democracia racial ao entender a discriminação mais como resultado da estratificação social do que das diferenças de cor e essa prática naturaliza e dá uma forma de racionalização das práticas discriminatórias. O programa Convivência e prevenção às Violências nas Escolas busca detectar os fatores de risco e vulnerabilidades sociais enfrentados pelos estudantes nas escolas e nas comunidades nas quais estão inseridos. E, ainda, os fatores de apoio e proteção que são possíveis de serem acessados em tais contextos. O que se quer é contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e práticas de intervenção social, além de um plano de ação, segundo explicou a educadora.

Mediação e cultura de paz

Jornada paz nas escolas também contou com oficinais práticas e temáticas. Em uma delas, o tema-chave foi cultura de paz e mediação de conflitos, com a mediação e exposição da psicóloga e professora Lourdes Alves de Souza. Para que a internalização da temática fosse mais facilmente assentida, a profissional abriu a oficina promovendo uma dinâmica entre os participantes. Coordenadores pedagógicos e professores tiveram a oportunidade de conversar entre si sobre a importância da promoção do diálogo, da empatia, de se colocar no lugar do próximo, da tolerância, do respeito e da criação dos laços de amizade.

“Falta diálogo. Precisamos escutar sem resistência. A gente supõe que o outro vê e sente o mesmo que nós. Mas cada um tem um ponto de vista diferente sobre as coisas, justamente pela razão que cada indivíduo é um mundo diferente. Sem a gente conversar e ouvir um ao outro, não tem como resolver o conflito”, observou.

A psicóloga destacou ainda que, assim como o exercício físico, o diálogo é também uma atividade que precisa ser praticada diariamente. “Nós não estamos mais acostumados a ouvir. A gente só quer falar. Os professores precisam ser agentes multiplicadores do diálogo para fazer com que as crianças também aprendam e assim possam resolver os conflitos entre elas, sem a necessidade de se ‘estapearem’. As crianças precisam aprender a conversar, a dialogar”, contextualizou.

Já a oficina sobre governança escolar contou com a presença de Agda Sardenberg, articuladora institucional da Associação Cidade Escola Aprendiz, que também promoveu atividades de interação entre coordenadores pedagógicos e professores. A profissional explicou que o objetivo dessa oficina era provocar uma concepção de discussão sobre educação integrada nas escolas. “É preciso um projeto educacional voltado para o desenvolvimento do estudante como um todo. Precisamos pensar o estudante não só na sua dimensão intelectual, mas também emocional, física, simbólica e cultural. Precisamos pensar em como melhorar toda a gestão para que o estudante se sinta mais pertencente à escola que frequenta. As escolas que levam isso na sua radicalidade apresentam redução gigantesca nos índices de violência e de indisciplina”, afirmou.

Oficina de saúde emocional

Compreender e lidar de forma positiva com as emoções e comportamentos das crianças e adolescentes é, muitas vezes, um desafio para o educador.  Neste cenário, a saúde emocional se faz necessária. Para ajudar os docentes a desenvolver suas habilidades socioemocionais e a saber lidar com suas próprias emoções, melhorando seus relacionamentos e transformando-os em crescimento pessoal, a Jornada paz nas escolas realizou uma oficina sobre Saúde Emocional conduzida pela Associação pela Saúde Emocional das Crianças (ASEC) com dinâmicas de grupo e rodas de bate-papo.

“A saúde socioemocional faz toda a diferença dentro da escola. Como vou lidar com aqueles conflitos se eu não estou bem emocionalmente? E se eu estou bem eu lido melhor com tudo, com o outro e, consequentemente, a paz vai chegando”, destacou Elvira Rindeika, monitora da ASEC. “Precisamos cuidar das nossas emoções primeiro para poder auxiliar nas emoções do outro, afinar quem somos para ajudar o outro. Cérebro e coração devem estar afinados, não dá para fazer isso de forma separada. Cérebro e coração devem andar de mãos dadas”, completou.

O primeiro passo é perceber que as dificuldades são diferentes para cada um e geram sentimentos desagradáveis como medo, angústia, agressividade, descontentamento, insegurança, entre outros. “São sentimentos ruins de sentir, mas não são ‘bons’ ou ‘ruins’. Não há certo ou errado. Eles são automáticos e não podemos desligar. Mas também não podemos nos agarrar a eles até o fim da vida”, explicou Neide Almeida, monitora da ASEC.

Na sequência, com as dificuldades identificadas, as monitoras sugeriram encontrar formas de se sentir melhor e construir um repertório com diversas opções que provoquem bem-estar. Elvira citou, como exemplo, as crianças que reagem às suas dificuldades e frustrações com o choro. “Às vezes é a única coisa que ela tem no repertório.  É o que sabe fazer para se sentir melhor e o que funciona”, completou.

Neste âmbito, os professores podem abrir o leque de opções. “O educador pode ajudar os alunos a terem mais autonomia, ajudar para que se sintam bem emocionalmente para um bom convívio em família e com os amigos. Ajudá-los a desenvolver habilidades para que possam lidar com suas dores”, disse Neide. Segundo ela, uma das formas de auxílio é escutar o outro. “A afetividade tem um papel importante. Oferecer o ombro e focar nos sentimentos que a dificuldade está trazendo para o aluno e não focar na dificuldade em si”, acrescentou.

Mais do que isso, é preciso promover debates e reflexões sobre posturas facilitadoras no desenvolvimento emocional. Durante a oficina, os professores compartilharam experiências e comentaram sobre ações importantes na troca com os alunos: ser afetuoso, estar disponível, ouvir sem julgar, praticar o respeito mútuo, a empatia, o sigilo, a confiança, a proximidade, se colocar no nível do outro, empoderar o aluno e incentivar a autonomia.

Ainda segundo as monitoras, esses caminhos são fundamentais para amenizar os casos de depressão e automutilação cada vez mais recorrentes nas escolas. Muitas delas, inclusive, já contam com grupos de apoio formado por inspetores, coordenadores, alunos e professores. “É fundamental poder trabalhar com os professores para que eles levem para suas unidades esses pequenos conhecimentos e que trabalhem nesse contexto a paz nas escolas. Eu preciso estar bem para saber lidar com os meus conflitos, com o outro”, disse Elvira.

“Foi uma experiência muito gratificante, não só a oficina, mas toda a Jornada. Tratamos de assuntos que encontramos no dia a dia dos alunos, das escolas, dos professores, dos pais. A saúde emocional somos nós. O contato com a emoção e todos nós temos emoções boas e ruins, e precisamos aprender a lidar com isso. Volto bem renovado e com uma grande responsabilidade de ser um multiplicador; que eu possa transmitir para os outros professores e profissionais”, compartilhou o professor de artes do Sesi Vila Leopoldina, Levi Lopes. 

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Em oficinas, trabalhou-se o tema saúde emocional com os integrantes da Jornada. Foto: Karim Kahn/Fiesp

Ideathon no combate ao bullying

Uma das atividades da Jornada paz nas escolas foi o Ideathon, maratona de ideias que reuniu 60 alunos e professores das unidades do Sesi-SP de Campinas e do bairro do Ipiranga, na capital. A proposta do concurso foi desenvolver projetos de comunicação e mobilização pela paz nas escolas tendo como tema o combate ao bullying.

Após a abertura, os alunos foram divididos em 10 grupos e começaram a trabalhar com a ‘chuva’ de ideias, fase em que todos propõem solução para a problemática apresentada. Logo após essa fase, os competidores receberam a visita do presidente da Fiesp e do Sesi-SP, Paulo Skaf, que estava acompanhado pelo superintendente Alexandre Pflug e do gerente de Educação Roberto Xavier, ambos do Sesi-SP.

Skaf ressaltou a importância da iniciativa, que poderá ter a experiência replicada para outras escolas da rede Sesi-SP. “É muito bom ver esses jovens trabalhando nesses projetos que ajudarão a criar a cultura de paz por meio do combate ao bullying, à discriminação, à violência, o que deverá melhorar o ambiente escolar e formar melhores cidadãos”, destacou.

O grupo Conta pra gente – composto por cinco alunos, três da unidade Ipiranga e dois do Sesi Campinas (Amoreiras), mais um professor – foi o grande vencedor e garantiu como prêmio uma viagem ao Rio de Janeiro para participar de uma Oficina Geração Futura, na sede do Canal Futura. Mais do que isso, os vencedores terão a missão de colocar em prática o projeto concebido.

A aluna Denise Mendes Fernandes, que integrou o grupo vencedor, explicou que a proposta da equipe foi de criar site e aplicativo que sirvam de plataforma de apoio a pessoas que sofrem bullying. “Tudo feito de forma anônima, para preservar a identidade das vítimas”, explicou. Sua colega Pâmela Rodrigues disse que existem três espaços, compostos por vídeos, inclusive de youtubers e influenciadores, para servir como apoio às vítimas; outro espaço é o do bate-papo, com o auxílio de alunos mediadores; e o terceiro uma espécie de mural de recados, para dar aquele ânimo aos que sofrem com as agressões”, finalizou.

O coordenador de Inovação e Start-Ups da Fiesp, Manoel Gonçalves Neto, disse que, durante o período de viagem ao Rio de Janeiro, os alunos serão auxiliados por profissionais do Canal Futura a fim de materializar as ideias propostas e levá-las de volta à rede educacional. “De fato foi uma grande maratona, porque eles passaram por diversas etapas até chegar à vitória. Primeiro, os alunos escrevem várias ideias e depois debatem entre si para eleger uma ideia principal que será trabalhada. Depois vem a fase de prototipagem, validação e apresentação do projeto”, explicou. O resultado foi apresentado no encerramento do programa, no Teatro do Sesi-SP, e a banca examinadora escolheu o trabalho vencedor com base em critérios como inovação, potencial de alcance e a viabilidade de execução.

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O presidente da Fiesp e do Sesi-SP, Paulo Skaf, recebe os alunos vendedores do Ideathon, na Jornada. Foto: Ayrton Vignola/Fiesp

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