A mostra - que traz fotografias impressas em folhas de plantas e em papel com pigmento de jenipapo - possui obras com audiodescrição e peças táteis.
Por: Mariana Soares, comunicação Sesi-SP
12/05/202317:19- atualizado às 09:32 em 16/10/2023
O Centro Cultural Fiesp apresenta, a partir do dia 24 de maio (terça-feira, às 19 horas), a exposição Terra Terreno Território da fotógrafa e artista visual Dani Sandrini. Com visitação gratuita e acessibilidade, a exposição conta com piso tátil, audioguia, 14 obras com audiodescrição e nove obras táteis.
A mostra é composta por 57 obras de temática indígena, na qual a artista utiliza duas técnicas de impressão fotográfica do século XIX para propor uma reflexão sobre como é ser indígena em grandes cidades, no século XXI.
As imagens foram captadas, durante o ano de 2019, em aldeias indígenas da Grande São Paulo, onde predomina a etnia Guarani, e também no contexto urbano, que abriga aproximadamente 53 etnias. Terra Terreno Território apresenta dois agrupamentos fotográficos. No primeiro a impressão é feita em papéis sensibilizados com o pigmento extraído do fruto jenipapo (o mesmo que indígenas usam nas pinturas corporais). E no segundo, diretamente em folhas de plantas como taioba, helicônia, cará-moela e outras. Os processos - chamados de antotipia e fitotipia, respectivamente - se dão artesanalmente, através da ação da luz solar, em tempos que vão de três dias a cinco semanas de exposição.
As obras de Dani Sandrini - em tamanhos que variam entre 20x30 a 60x90cm - trazem uma temporalidade inversa à prática fotográfica vigente, da rapidez do click e da imagem virtual. “O tempo de exposição longo convida à desaceleração para observar o entorno com outro tempo e sob outra perspectiva. Como a natureza, onde tudo se transforma, esses processos produzem imagens vivas, uma referência a permanente transformação da cultura indígena, que não ficou congelada 520 anos atrás”, reflete a artista.
A delicadeza do processo orgânico traz também uma consequente fragilidade para as fotografias com a passagem do tempo. “Dependendo da incidência de luz natural diretamente na imagem, por exemplo, pode levá-la ao apagamento”, explica a artista. A concepção de Sandrini considera esta possibilidade como um paralelo ao apagamento histórico que a cultura indígena vem sofrendo em nosso país. Ela diz que “a proposta favorece também a discussão acerca da fotografia com seu caráter de memória e documento como algo imutável, ampliando seus contornos e podendo se vincular ao documental de forma bem mais subjetiva. A certeza é a transformação. A foto não congela o tempo. Os suportes que aqui abrigam as fotografias geram outros significados”, reflete.
Com Terra Terreno Território a fotógrafa alerta para a necessidade de compreender a cultura indígena para além dos clichês que achatam a diversidade do termo. “A intenção é exatamente oposta: é desachatar, lembrar que muitos indígenas vivem do nosso lado e nem nos damos conta. Já se perguntaram o porquê de essa história ter sido apagada?”, comenta Dani, que durante o projeto fotografou pessoas de diversas etnias, oriundas de várias regiões do país, ora posando para um retrato ora em suas rotinas, suas atividades, seus eventos, rituais ou celebrações.
A gerente de Cultura do Sesi-SP, Debora Viana, enfatizou o compromisso da instituição com a arte e a formação de público e falou a respeito da satisfação da entidade ao dar espaço para iniciativas como a mostra Terra Terreno Território. “O Sesi-SP tem como um de seus compromissos contribuir com a sociedade civil, promovendo Educação e Cultura. Entendemos que só assim será possível dar apoio a construção de uma cidadania crítica, sensível e atuante. Além de assegurar a democratização da cultura, nas suas mais diversas manifestações” disse.
Terra Terreno Território nasceu do projeto Darueira, em 2018, contemplado no 1° Edital de Apoio à Criação e Exposição Fotográfica, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo por meio da Supervisão de Fomento às Artes. Realizado, em 2019, ganhou exposição na Biblioteca Mario de Andrade, de outubro a dezembro. Em 2020 (no formato online, devido à pandemia), a exposição passou pela Galeria Municipal de Arte, do Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes (Chapecó/SC), Cali Foto Fest (Colômbia) e Pequeno Encontro de Fotografia (Olinda/PE). Em 2021, integrou o Festival Photothings (exposição online no metrô de São Paulo; ensaio escolhido para integrar a Coleção Photothings). Em 2022, Terra Terreno Território foi selecionada para a Exposição Latinas en Paris (Fotografas Latam, Fundación Fotógrafas Latinoamericanas) e circulou por unidades do SESI São Paulo – Itapetininga, Campinas e São José do Rio Preto, além do Centro Cultural Matarazzo, em Presidente Prudente.
Dani Sandrini - Fotógrafa e artista visual vivendo em São Paulo, Dani Sandrini desenvolve projetos documentais e artísticos, desde 2014, apesar de ser fotógrafa comercial, desde 1998. A depender do projeto e suas singularidades, sua fotografia é colocada nas telas ou papéis, mas também pode conter outros elementos que adicionam significados à imagem final, bem como camadas extras de subjetividade. Pesquisa o entrelaçamento de materiais e suportes com a imagem fotográfica e a ação do tempo sobre a mesma. Dani tem experiência em processos fotográficos alternativos e desenvolve projetos utilizando impressão por transferência, fotografia estenopeica, cianotipia, antotipia e fitotipia.