Rashid explora a distopia das metrópoles em seu novo disco, Movimento Rápido dos Olhos
Em um futuro distópico, as grandes cidades deixam de ser pólos econômicos e se tornam vazios de concreto; a população, então, migra para as regiões interioranas atrás de recursos. A busca por qualidade de vida esbarra, diretamente, no comando do Patriarca, figura corrupta e detentora de riquezas conquistadas por meio de ameaças e intimidações. Uma comunidade instalada na região vive em harmonia até ser dizimada por homens subordinados ao vilão. Assim se inicia a história por trás do novo lançamento de Rashid, o disco Movimento Rápido dos Olhos. Definido pelo artista como um álbum-áudio-filme, o quarto trabalho de estúdio do rapper intercala as canções com animação em quadrinhos, resgatando o formato das radionovelas. Nomes como Liniker, BK’, Marissol Mwaba, Amiri, Don L, Curumin, Macedo Bellini e Stefanie se unem a Rashid como participações especiais ao longo das 15 faixas. Estas constroem uma jornada de mudanças regida pela evolução pessoal e pelos questionamentos às regras. Movimento Rápido dos Olhos chega às plataformas de streaming no dia 10 de novembro acompanhado de animações no canal de YouTube do artista.
“Com um tempero de utopia, sonho e heroísmo, a narrativa é pautada no processo de autodescoberta de Samurai, protagonista que tem a companhia de Proceder, Oráculo, Davila e Patriarca ao longo da história.
Para dar vida a estes personagens, Rashid convidou a jornalista e apresentadora Adriana Couto, o publicitário Rodrigo Carneiro e o dublador Guilherme Briggs. Este último é figura conhecida por emprestar a sua voz para desenhos como Buzz Lightyear, Superman, Mickey e Samurai Jack. “Queria trazer alguém da dublagem para trabalhar num álbum meu há algum tempo, mas ainda não tinha o lugar perfeito. Não imaginava que conseguiria um dos maiores dubladores do país para este trabalho atual”, comemora.
A cultura oriental é um forte guia em Movimento Rápido dos Olhos. Seja nas animações, em formato de quadrinhos, ou nos personagens. Isto se deve à admiração que Rashid cultivou ao longo dos anos. “Essa identificação nasceu ainda na época das batalhas, onde toda semana meu talento estava em jogo contra MCs incríveis e eu precisava de uma disciplina intensa para continuar evoluindo. Nessa época, conheci livros como Bushido, Hagakure e a própria história do Miyamoto Musashi, o samurai mais famoso da história do Japão”, lembra o rapper, que complementa: “eu me identifiquei com muitas coisas ali e, a partir disso, formei parte da base do meu pensamento sobre rotina, dedicação e foco”.
90 min
Rashid - voz
São muitas as coisas que mudaram na vida do paulistano Rashid nos últimos 16 anos, desde que começou a desenvolver suas rimas nas batalhas de MCs do Santa Cruz, na zona sul de São Paulo. De lá pra cá, ele se consolidou no mercado como uma das vozes centrais do rap nacional e colocou no mundo três EPs, três mixtapes, quatro discos de estúdio e centenas de shows – em território nacional e estrangeiro – que já renderam mais de 160 milhões no canal oficial do YouTube, e mais de 350 milhões somados no streaming. Com o pontapé inicial na discografia do rapper dado em 2010, pelo EP Hora de Acordar, Rashid foi cravando seu lugar na cena com lançamentos de mixtapes anuais: Dádiva e Dívida (2011), Que Assim Seja (2012) e Confundindo Sábios (2013). A última, foi a principal responsável por levar o cantor e compositor ao Texas, nos Estados Unidos, para se apresentar no maior festival de inovação do mundo, o South By Southwest (SXSW), em 2014, antes mesmo de seu primeiro disco. No ano seguinte, ainda mais afiado para o mercado, o rapper voltou a se apresentar no festival.
Toda a experiência acumulada até ali se refletiu no disco de estreia. A Coragem da Luz chegou em 2016 e apresentou uma mescla do som sintético dos beats e o orgânico dos arranjos instrumentais. Colocar um trabalho mais completo e estruturado, refletindo seu amadurecimento musical e estratégico, possibilitou a Rashid levar para os palcos apresentações ao vivo com interações mais dinâmicas entre MC, DJ e banda.
O formato também figurou nos shows de CRISE, segundo trabalho na discografia do artista, que chegou em 2018 em um formato bem afinado com o mercado, acompanhado de 8 videoclipes revelados mês a mês antes do lançamento do disco. Foi com essa tracklist, inclusive, que Rashid fincou os dois pés na cena mainstream. Sua colaboração com o carioca Luccas Carlos na música “Bilhete 2.0” rendeu ao rapper um certificado de Platina Duplo em fevereiro de 2020, quando ultrapassou a marca de 60 milhões de execuções da canção nas plataformas de streaming. Outra faceta que ganhou destaque ao longo de 2018 foi a de autor. Em junho daquele ano, chegava ao mercado o livro “Ideias que rimam mais que palavras - Vol. 1”, uma série de crônicas criadas por Rashid a partir das letras de suas músicas.
A visão multimídia do paulistano estava apenas começando a despontar. Prova disso é a forma que o disco Tão Real veio ao mundo, em 2020. Pensado em temporadas, o trabalho chegou acompanhado de um documentário que aprofunda o universo de Rashid. Os dois materiais foram divididos em três partes que revelaram aos poucos as faixas, entre elas as parcerias com Emicida, Duda Beat, Tuyo, Rincon Sapiência e Drik Barbosa. Ao todo foram dezoito faixas, sendo que “Pipa Voada”, com Emicida e Lukinhas, conferiram o primeiro Disco de Diamante à trajetória do artista; enquanto sua parceria com Duda Beat em “Sobrou Silêncio” adicionou um certificado de Platina às conquistas. Toda a produção ainda se traduziu para os moldes de um podcast. Em janeiro de 2021, Rashid marcou o aniversário de um ano de Tão Real com uma produção audiovisual de “Um Mundo de Cada Vez”, em parceria com Drik Barbosa e Wesley Camilo.
Rashid entregou ainda o sexto volume de “Diário de Bordo”, série iniciada por ele em 2010. Além de mostrar a habilidade do artista nas punchlines alinhadas ao cenário político e sociocultural, a faixa traz a participação de Chico César. Já em novembro de 2022, o rapper aumentou seu repertório ao lançar o disco Movimento Rápido dos Olhos. Definido por ele como um álbum-áudio-filme, este trabalho intercala as músicas com animação em quadrinhos ao longo de 15 faixas, e apresenta uma nova faceta de Rashid, não só musicalmente, reforçando suas influências fora do rap, como também o artista multifacetado responsável por entregar uma nova experiência de consumo, sem estar preso a fórmulas e sem perder a sua marca nas rimas afiadas e necessárias.
Rashid foi um dos aguardados nomes do line-up da décima edição do Lollapalooza Brasil, que aconteceu em março de 2023. Para a ocasião, o artista concebeu um espetáculo exclusivo para o festival e encerrou como uma das apresentações mais elogiadas e emocionantes do evento. O rapper segue explorando possibilidades em sua turnê mais recente, do último trabalho, e também coloca em prática um painel de debates com os fãs, o MRO Club. Com gancho no disco Movimento Rápido dos Olhos, o músico busca propor uma conversa aberta sobre as letras de rap hoje em dia, o papel da arte em geral e como construir um Brasil para o amanhã, tudo isso a partir das temáticas provocativas sugeridas pelo disco.